Diário Nerd - Tia do Inferno | Nerds Attack!

domingo, 14 de outubro de 2012

Diário Nerd - Tia do Inferno

Diário Nerd - Tia do inferno

Tia do Inferno
A exata imagem  que vem a minha cabeça  sobre a minha tia.
   Como alguns sabem, sempre joguei RPG, desde que me conheço por gente. RPGs de todos os tipos. MMORPGs, RPGs clássicos usando sistemas D&D, 3D&T, Vampires, Lycans e outras infinidades de modulações. Como mestrava duas campanhas D&D e gostava disso (continuo gostando), eu costumava comprar livros e mais livros de RPG. Então eu tinha livros do mestre, livros de monstros, livros de magias, livros de classes estendidas, livros de raças, livros de itens, livros do jogador, dentre outros. Eram tantos que eu tinha três prateleiras só de livros de RPGs, fora eBooks e material digitalizado. Sim, era uma bela coleção. Devem estar se perguntando por quê eu falei que ERA uma bela coleção. Vou explicar com detalhes mais um épico episódio de minha vida que deixou cicatrizes ainda não curadas.
   Para os que me conhecem melhor, eu não sou uma pessoa que gosta de ler. Pelo menos não livros que não são do meu interesse, tipo romance ou livros consagrados por escritores ditos super famosos. Porém, assuntos que me interessam eu leio, releio, leio novamente e para não ter dúvidas leio uma última vez. Eu estudo por minha conta assuntos bíblicos também, pois acho interessante e sim, acredito em Deus. Fora que gosto muito de "conversar" com os que se dizem pastores e líderes religiosos (MWHAHAHA).
   Até minha época de colégio no ensino médio eu jogava e mestrava constantemente jogos de RPG. Era tanto que os meus colegas chegavam a me acordar as cinco horas da manhã, digo, madrugada, para podermos jogar.
   Um belo dia em casa, minha mãe recebe três tias minhas das quais nem tinha conhecimento que existiam. Não sei porque motivo, elas começaram a conversar sobre religião. Dado um certo ponto da conversa, minha mãe que sabe que eu estudo a fundo assuntos bíblicos me chamou para a "conversa", sabendo que adoro esse tipo de discussão. Depois de muito debate e tentativas de ela me converter para a religião dela (evangélica), eu mencionei: "você segue o que o seu pastor fala. O que eu sigo é o que eu estudei e sei estar correto com embasamentos bíblicos". Nesta hora consegui ver uma chama ascendendo em seus olhos e aí, a conversa que estava apenas acalorada mudou de tom. Começou a falar que eu era um blasfemador, anti-cristo, filho desprendido, pecador e daí pra baixo. Quem olhava para as minhas outras duas tias via que até elas haviam ficado espantadas com a reação desta minha tia. Eu, ouvindo os "elogios" que ela estava me fazendo e esperando ela acabar para eu poder continuar com meus argumentos e ver a cara de felicidade da minha mãe por desbancar o suposto conhecimento divino das três, ouço a seguinte frase: "com esse pensamento você vai pro inferno!". Essa foi a frase de sentença de morte para ela! Uma coisa bem básica que até hoje não vi um evangélico saber é o real significado da palavra inferno, que por sinal foi uma das primeiras coisas que pesquisei quando me interessei por esse assunto.
   Exatamente caros leitores. Para aqueles que viram, uma rápida explicação para inferno é a sepultura comum da humanidade, ou seja, o cemitério ou para onde quer que vá depois de morrer. Seja cremado ou enterrado, você volta para a terra. Sabendo disso, a respondi com uma entonação sarcástica e medonha: "sério que eu vou pro inferno? Olha que engraçado, você também! VAMOS TODOS PRO INFERNO! Você, eu, minha mãe, essas outras duas tias minhas aqui também, meu pai, meu irmão, meu cachorro, sua filha e todo mundo que você conhece!". Até esse ponto da minha vida nunca tinha visto um rosto tão apavorado como o dela. Conseguia ver umas gotas de suor descendo pelo rosto e ainda pálida, retrucou: "EU?! Que isso menino! Eu sigo Jesus, o sangue dele tem poder! Não vou pro inferno não!". Nesse momento ela ficou sem palavras. Não sabia o que me dizer, eu acho. Eu, terminando de forma muito contente meu "debate" com ela em especial falei: "é por isso que eu falei que você não é cristã, mas sim, uma seguidora cega das palavras dos seus "pastores". Pesquise sobre o real significado da palavra inferno e também sobre o que a Bíblia diz sobre a morte e depois você talvez consiga conversar sobre o assunto.". Voltei então para meu computador, tendo reparado a cara de aprovação da minha mãe diante da situação. Apenas como nota, minha mãe é cristã também sendo que ela da mesma forma que eu, pesquisa os assuntos a fundo, não segue o que é dito por qualquer pessoa. Por isso ela fica "contente" com esses casos.
   Alguns dias depois chegando em casa e me preparando para a seção de RPG daquela tardinha/noite, depois de voltar do meu colégio, sinto um cheiro de queimado e vejo umas cinzas no quintal, o que aparenta ter no meio delas também, algumas páginas de livros. Como tínhamos alguns que iríamos doar e nos desfazer, achei que eram aqueles, só não havia entendido até então porque estavam queimados. Quando chego em casa, vejo a tal da minha tia conversando com minha mãe. Ela mal olhou na minha cara. Apenas a cumprimentei e fui tomar meu banho e comer antes da seção. Ao sair do banho notei que ela havia ido embora, mas minha mãe estava com uma cara não muito amigável. Até então tudo bem. Quando fui para meu quarto, noto minhas prateleiras todas vazias! Nesse momento me deu uma dor no coração e não queria acreditar que aqueles livros lá fora, outrora queimados, eram os meus. Falei com uma voz trêmula então, perguntando a minha mãe: "onde estão meus livros mãe?". Ela me respondeu: "Sua tia os havia queimado quando cheguei em casa. Ela entrou, seu pai foi dormir, ela ficou me esperando e os queimou. Quando perguntei porque ela fez isso, ela falou que eram livros satânicos e que isso estava te desvirtuando. Não se preocupa porque já conversei com ela sobre a atitude que teve. Não eram coisas dela, expliquei que não tinha esse direito.". Acredito que todos vocês conheçam o estado de frenesi que os bárbaros no RPG conseguem atingir em batalha. Pois é. Acho que nesse dia soube exatamente o que era isso. Após ouvir o que minha mãe disse, eu olhei pra cara dela e perguntei: "sabe que horas minha tia sai pra trabalhar? Tem o endereço dela? Ela tem cachorro? (tenho medo deles)". Minha mãe me perguntou o que eu ia fazer e eu respondi, calmamente: "Vou queimar a casa dela.", resposta essa dada com um olhar maligno. Eu acho que dava pra ver uma aura de destruição saindo de mim, uma força de vingança, um ódio incontrolável, vontade de cortar todos os membros dela e dar aos urubus ou algo do tipo.
Eu em Frenesi
Meus bônus de ataque em frenesi ao saber do ocorrido.
   Minha mãe, após vários minutos conversando conseguiu me acalmar (droga) e eu desisti de fazer qualquer besteira, pelo menos em primeira instância. Só falei uma coisa pra ela antes de ir pra rua e comentar com meus colegas sobre o acontecido: "Se ela aparecer aqui em casa, não vão ser livros que vão queimar...". Depois desse dia nunca mais a vi.
   Uns meses depois, avisto as outras duas tias em minha casa e olho desesperado para minha prateleira, que já tinha algumas publicações. Para meu alívio dessa vez estavam todas lá. Elas haviam saído da crença delas (evangélica) e estavam estudando sobre a Bíblia por conta própria. Ficaram sabendo do acontecido e parece que muitas outras pessoas saíram da igreja, apenas por saber o que realmente significava a palavra inferno.
   O fato é que depois desse dia, fiquei sem minha biblioteca de livros de RPG e a partir de então, minhas seções terminaram e não voltei a jogar mais.
   Conclusão de tudo isso: se tiver parentes ou conhecidos que acham que RPG é referência demoníaca ou faz alusão ao satã, esconda-os, caso contrário os mesmos podem ser alvos de depredação ou algo do tipo.
   Fica aqui o relato de um jogador de RPG e nerd, outrora muito feliz com sua coleção de livros pulverizados pela chama do demônio (minha tia).

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